1. Promover a utilização dos métodos fónicos
Uma característica determinante dos métodos fónicos é serem aplicados de forma sistemática. Aplicar o método de modo sistemático implica ensinar explicitamente as relações entre grafemas e fonemas numa sequência claramente definida.
Essa sequência deve obedecer aos seguintes princípios:
a) facilidade de acesso aos fonemas: os primeiros sons a serem trabalhados devem ser aqueles que são mais fáceis de perceber e isolar, aqueles que conseguimos produzir prolongadamente – as vogais, as consoantes fricativas e as líquidas antes das oclusivas;
b) grau de consistência: as relações letra-som mínimo que têm correspondências fixas nas duas direções (leitura e escrita) antes daquelas que têm mais do que uma correspondência. Por exemplo, o fonema /v/ e a letra <v> têm sempre a mesma correspondência quer na leitura, quer na escrita; todas as vogais têm alguma variabilidade, mas as que são mais estáveis devem ser ensinadas primeiro - a letra “i” quase sempre se lê /i/ e se escreve <i>;
c) complexidade do grafema: começar pelos grafemas simples, aqueles que têm só uma letra, antes dos que são constituídos por duas letras (dígrafos, como, por exemplo, <um>, <lh>, <ss>, <qu>) e dos que têm diacríticos (e.g., á, ç, õ);
d) estrutura silábica: iniciar com estruturas simples CV (consoante-vogal), depois usar essa estrutura em sequências um pouco mais longas (CVCV) e introduzir outras estruturas curtas (VCV, CVV); a estrutura CC (e.g., ; ) deve ser a última a ensinar.
Outra dimensão relevante no ensino da leitura e da escrita é a vantagem em combinar sistematicamente atividades de leitura com atividades de escrita. Essa combinação permite realizar exercícios de fusão de sons mínimos e de análise de sons sobre os mesmos itens (sílabas, palavras, pseudopalavras), ao mesmo tempo que as respetivas letras-alvo são pronunciadas e são manuscritas, o que potencia a tomada de consciência dos fonemas e reforça também a aprendizagem da letra (letras).
Importa sublinhar que, no ensino combinado da leitura e da escrita, as relações entre grafemas – fonemas (leitura) são mais consistentes do que as relações entre fonemas-grafemas (escrita). Por exemplo, <s> pode ser lido de duas maneiras (/s/ e /z/), tendo uma consistência contextual que deve ser ensinada explicitamente; mas o som /s/ pode ser escrito como <s>, <ss>, <c>, <ç> e <x>, e nem todas as opções decorrem de regras. Além disso, há relações que são consistentes numa direção e não o são na outra. Por exemplo, o fonema /r/ só se pode escrever como , mas o grafema pode ser lido /r/ ou /R/, dependendo da posição.
Embora ler e escrever partilhem muitos aspetos e, por isso, se reforcem mutuamente, cada uma das atividades alfabéticas (leitura e escrita) tem as suas especificidades, as quais devem ser explicitamente ensinadas em momentos oportunos na sequência dos passos a percorrer durante a aprendizagem. Quando particularidades da escrita ou da leitura forem objeto de estudo, pode haver necessidade de apenas a escrita ou a leitura serem trabalhadas.
2. Monitorizar a utilização dos métodos fónicos
Para verificar se o método está ou não a cumprir os objetivos, é necessário pedir às crianças, com regularidade, que:
a) leiam em voz alta e escrevam palavras novas usando as letras que já conhecem;
b) leiam e escrevam pseudopalavras construídas com letras que já conhecem.
Nesses exercícios de verificação, os professores devem utilizar itens que representem a sequência de progressão que usaram no ensino. No entanto, para verificar se esses conhecimentos estão bem estabelecidos não basta avaliar a exatidão dos desempenhos, também é muito importante que os professores verifiquem o tempo que as crianças levam a realizar esse tipo de tarefas. Se uma criança for muito lenta a decodificar ou a escrever uma palavra que tenha letras conhecidas, isso é um indicador de que a aprendizagem não está consolidada.
Autoria: Ana Paula Vale Edição: Andreia Lobo
Publicação: 22.setembro.2020
Neste jogo as crianças ajudam um astronauta a chegar à sua nave enquanto treinam a habilidade de analisar o fonema inicial das palavras.
Aprender a ler e a escrever implica a apropriação do princípio alfabético, isto é, de que os grafemas representam os sons da fala, os fonemas. As relações entre grafemas e fonemas podem ser de vários tipos e têm de ser aprendidas de forma gradual.
A aprendizagem da leitura e da escrita exige perceber, assim como, aprender, a associação entre as letras (grafemas) e os “sons“ que representam (fonemas).
Nesta atividade é apresentada uma sequência de passos para o ensino das primeiras correspondências entre grafemas e fonemas, tomando como exemplo o /p/ - <P p>. A estrutura desta sessão pode ser replicada alterando os materiais (palavras, imagens, frases) para o ensino de novas correspondências.
Os métodos fónicos assentam na ideia de que é necessário que as crianças entendam que existem relações consistentes entre grafemas e fonemas (leitura) e entre fonemas e grafemas (escrita). A maioria dos estudos que compararam métodos de ensino mostraram que os métodos fónicos sistemáticos conduziram a progressos mais sólidos na leitura/escrita do que o ensino não sistemático ou do que o que não se baseava nos princípios fónicos.