1. Promover o uso de estratégias apropriadas ao planeamento, textualização e revisão do texto escrito
São numerosas e extensas as possibilidades para ensinar planeamento, textualização e revisão. Livros inteiros como o de Graham, MacArthur, & Hebert (2019) são dedicados a cada um deles. Na impossibilidade de aqui revermos todos, listamos cinco princípios gerais a seguir no ensino explícito da escrita e destacamos o modelo de ensino que tem reunido mais evidências empíricas da sua grande eficácia.
Naturalmente, a escrita só melhora escrevendo. A investigação cognitiva tem demonstrado que essa prática deve ser motivada, contextual, guiada, hierárquica e distribuída.
A motivação é crítica para persistir na escrita. Só persistindo, treinando é que a escrita melhora.
Ainda que as competências possam ser treinadas isoladamente, elas precisam de ser também exercitadas em contextos de escrita autêntica, ou seja na produção de textos com propósitos comunicacionais reais e não simplesmente como exercícios escolares desligados.
No início, a prática da escrita é muito sustentada, guiada, pelo professor. Progressivamente, este vai retirando o apoio para tornar a prática do aluno independente.
As aprendizagens que o aluno vai realizar devem ser estruturadas por ordem crescente de dificuldade.
A prática de escrita deve estar distribuída ao longo do tempo e não simplesmente concentrada em momentos raros e pontuais.
Um dos modelos de ensino da escrita que tem recebido maior apoio da investigação empírica é conhecido como Self-Regulated Strategy Development (SRSD). O SRSD é o melhor exemplo do ensino autorregulado da escrita. Tem na sua base o ensino de estratégias de autorregulação (para controlar a cognição, o comportamento e o ambiente do escritor) e o ensino de estratégias de escrita.
Exemplos de estratégias de autorregulação:
1. escolher um ambiente particular para escrever;
2. estabelecer objetivos para a escrita;
3. monitorizar o número de palavras escritas;
4. fazer autoverbalizações encorajantes sobre a tarefa de escrita;
5. dar um presente a si próprio pela conclusão de um trabalho de escrita.
No uso destas estratégias de autorregulação, importa que elas sejam adequadas e façam sentido para cada escritor. As estratégias de escrita servem para lembrar à criança elementos importantes na escrita de um texto, por exemplo, para planear a escrita de um texto narrativo podemos ensinar:
1. como começa a história?
2. o que aconteceu?
3. qual foi a solução?
4. o que aconteceu a seguir?
5. como se sentiram as personagens?
6. como acabou a história?
As mnemónicas, utilizando acrónimos, também podem ser usadas para facilitar o processo de escrita. Por exemplo, o acrónimo OREO para ajudar na escrita de um texto de opinião (OREO = dar Opinião, dar pelo menos três Razões, Explicar cada razão e fechar com chave de Ouro). Com crianças pequenas, as mnemónicas podem ser usadas em organizadores ilustrados que facilitem a memorização e o uso da estratégia. O modelo SRSD tem demonstrado amplamente o efeito poderoso da aprendizagem conjunta de procedimentos de autorregulação e de estratégias de escrita.
2. Monitorizar o uso de estratégias apropriadas ao planeamento, textualização e revisão do texto escrito
O ensino da autorregulação na escrita tem por objetivo principal permitir que o aluno possa de forma autónoma preparar, realizar a tarefa de escrita e refletir sobre os resultados obtidos. O foco está em que o aluno se torne capaz, por si só, de regular a preparação, a realização e a avaliação das suas produções textuais. A atenção do professor está em ensinar formas eficazes de preparar e executar a escrita e também em estabelecer critérios de avaliação dos textos. A apropriação pelo aluno dos procedimentos em cada uma das três fases vai ditar o seu sucesso na escrita dos textos. Mas, nesta aprendizagem, a avaliação pelo professor, e sobretudo o feedback que este possa dar sobre o texto escrito, vai desempenhar um papel crucial na melhoria dos textos. Finalmente, um aluno só se torna bom escritor se, além de aprender a regular a escrita, aprender a regular também a leitura.
Autoria: Rui Alves Edição: Andreia Lobo
Publicação: 22.setembro.2020
Sim, claro! O único critério é que essa mnemónica possa ser facilmente memorizada. Igualmente importante é que essa estratégia de escrita seja utilizada pelo aluno quando ela lhe possa ser útil. Para isso, vários textos devem ser escritos fazendo uso da estratégia. Inicialmente, esta pode ser introduzida com ilustrações e organizadores gráficos. Depois, esses elementos vão sendo progressivamente retirados. Quando a mnemónica estiver interiorizada, bastará a sua evocação para auxiliar na escrita do texto.
Esta brochura, centrada na competência compositiva, aborda a complexidade do processo subjacente à prática de produção textual, bem como os diversos modos de ação que podem ser adotados pelo professor no ensino da escrita e a diversidade de práticas que devem estar presentes logo no 1.º ciclo do Ensino Básico.
Parece haver vantagens em tornar o processo de escrita mais consciente, intencional e autorregulado pelos alunos. Que processos cognitivos estão implicados na escrita? Como podem ser trabalhados na sala de aula? Apresentamos um modelo de ensino da escrita que se tem mostrado muito eficaz e que prevê procedimentos de autorregulação e estratégias de escrita.