Desenvolver Recomenda-se

Como ensinar a monitorizar a compreensão do que se lê e o que fazer quando não se compreende?

1. Promover e induzir o uso de estratégias

Desde a década de 80 do século XX que se reconhece que, para cada estratégia, é necessário distinguir entre:

a) o conhecimento declarativo, isto é, conhecer a estratégia; 

b) o conhecimento procedimental, isto é, saber como usar a estratégia;

c) o conhecimento condicional, isto é, saber quando e porquê a mesma deve ser usada.

Deste modo, o ensino de estratégias não se pode limitar à sua enumeração, sendo necessário modelar como se pode usar uma estratégia específica e em que condições ela pode ser usada.

As estratégias que se têm revelado particularmente eficazes e que são objeto de treino em muitos programas de intervenção incluem:

  • efetuar perguntas sobre o texto;
  • efetuar inferências;
  • efetuar predições/antecipações;
  • monitorizar a compreensão;
  • estabelecer conexões entre partes do texto e entre textos;
  • proceder a releituras;
  • procurar pistas em imagens, tabelas, caixas de texto ou outros indicadores tipográficos;
  • sintetizar e elaborar imagens mentais.

Os métodos envolvidos no seu ensino incluem, entre outros, o recurso à modelagem de estratégias por parte do professor, o recurso à reflexão falada, o ensino recíproco, a instrução direta e o reconto.

O exemplo 1 clarifica alguns destes métodos.

A discussão em sala de aula sobre as informações identificadas pelos alunos permite não só a elaboração da resposta à pergunta, mas também um padrão de interação que se enquadra no ensino recíproco e especificamente no diálogo recíproco. No exemplo 2 é descrita uma operacionalização do recurso à modelagem e à reflexão falada.

O papel do professor é decisivo. Não só para explicar em que consiste cada uma das estratégias, mas também na modelagem da sua utilização e adequação às diferentes necessidades, sem esquecer a monitorização do seu uso. A aprendizagem de estratégias e a sua utilização de modo eficaz é um processo demorado no tempo, sendo necessário um ensino sistemático e prolongado. Até que os alunos se apropriem das estratégias, é necessário que o professor lhes recorde, de forma recorrente e insistente, a sua convocação e subsequente uso. 

Embora o ensino de estratégias possa ser realizado através da implementação de programas estruturados, é desejável que ele seja integrado nas sequências didáticas habitualmente usadas na sala de aula, na medida em que ocorrem num ambiente “natural” de aprendizagem, que se espera significativo. Esta integração, todavia, implica um esforço acrescido por parte do professor, que terá de elaborar as diferentes propostas de trabalho, o que, além de tempo, exige também formação específica.

Pedir aos alunos que façam o resumo do texto é uma tarefa comum, mas encerra um grau de dificuldade elevado, nomeadamente no 1.º ciclo do ensino básico. O professor necessita de guiar e apoiar a elaboração dos resumos, o que requer a ativação de conhecimentos relacionados com o ensino explícito de estratégias de leitura. (ver exemplo 3)


2. Monitorizar a utilização de estratégias de autorregulação da compreensão da leitura

A avaliação e a monitorização de estratégias de autorregulação da compreensão da leitura têm sido realizadas recorrendo a medidas de autorrelato e a procedimentos "experimentais". As primeiras incluem questionários compostos por um conjunto de afirmações sobre estratégias cognitivas e metacognitivas de leitura, solicitando-se ao sujeito que indique em que medida as utiliza, recorrendo a escalas do tipo Likert, usualmente de cinco pontos. Exemplo: variando entre “nunca” e “sempre” (cf. Figura 1).

1 - Nunca ou raramente;  2 - Poucas vezes;  3 - Às vezes;  4 - Frequentemente;  5 - Sempre ou quase sempre
1. Depois de ler o título, penso no que já sei sobre o tema? 1 2 3 4 5
2. Depois de ler o título, costumo imaginar de que tratará o texto? 1 2 3 4 5
3. Antes de iniciar a leitura, dou uma vista de olhos ao texto para ver do que trata? 1 2 3 4 5
4. Antes de iniciar a leitura, dou uma vista de olhos ao texto e leio os subtítulos, os sublinhados e outra informação destacada? 1 2 3 4 5


Figura 1. Excerto de uma grelha de autorrelato, incluída num programa de ensino explícito da compreensão da leitura (Fonte: Ribeiro, I. S., Viana, F. L. Ribeiro, I. S., Cadime, I., Fernandes, I., Ferreira, A., Pereira, L. (2010). A compreensão da leitura. Dos modelos teóricos ao ensino explícito, p. 50. Coimbra: Edições Almedina. http://hdl.handle.net/1822/11216).


A aplicação repetida destes questionários permite ao professor analisar as mudanças que ocorrem no comportamento dos alunos. A experiência com o questionário de onde foi extraído o excerto acima permitiu verificar que a leitura de um conjunto de estratégias que podem ser usadas para apoiar a compreensão dos textos lidos “dá muitas ideias”, como referem os alunos. 

Os métodos "experimentais" assumem geralmente duas variantes. Na primeira, antes de os alunos lerem um texto, é-lhes pedido que estimem em que medida irão compreender o texto que lhes será apresentado. Segue-se a leitura do texto e a resposta a um conjunto de perguntas. Na segunda, os alunos leem um texto e, de seguida, respondem a um conjunto de perguntas. No final é-lhes pedido que indiquem se as respostas que deram estarão corretas. Em ambos os procedimentos, é comparada a avaliação que os alunos fazem sobre a sua capacidade de compreender o texto lido e o número de respostas corretas obtido. 

Estes procedimentos podem apresentar algumas dificuldades de utilização em contexto de sala de aula, não sendo muito usados nos anos iniciais de escolaridade. Além disso, as medidas de autorrelato podem induzir respostas socialmente enviesadas. Acresce ainda o facto de os alunos terem, geralmente, dificuldade em efetuar a distinção entre conhecerem uma estratégia e serem capazes de a usar. 

Na prática pedagógica, a monitorização pode efetuar-se por uma terceira via. Durante a exploração de um texto, ou durante a correção de uma prova, o professor pode incluir perguntas sobre o processo de resolução das tarefas. Isto é, pode pedir aos alunos que expliquem como chegaram à(s) resposta(s) dada(s) e/ou como explicam os erros de compreensão cometidos.

Autoria: Fernanda Leopoldina Viana e Iolanda Ribeiro          Edição: Andreia Lobo

Publicação: 22.setembro.2020

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