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Morfologia e consciência morfológica

1. Promover o desenvolvimento da consciência morfológica

O desenvolvimento da consciência morfológica assenta na segmentação das palavras em constituintes morfológicos, operação que decorre:

  1. da capacidade de relacionar sequências que partilham um constituinte e contrastam outro (cf. gat-o / gat-a)
  2. da reutilização dos constituintes identificados em novos contextos (cf. médic-o / médic-a; gat-inho)

O treino de segmentação morfológica deve ocorrer por etapas, começando por estruturas que contêm apenas dois constituintes (o radical e um especificador), passando, em seguida, a sequências com três constituintes (o radical e dois especificadores). Na etapa seguinte, as palavras terão dois ou três constituintes: o radical e um afixo modificador, ou o radical e um sufixo derivacional, sendo que, em todos estes casos, o sufixo especificador pode ou não estar presente. O número de constituintes deve ir aumentando, progressivamente, de forma a incluir sequências de afixos modificadores e derivacionais, ou sequências que contêm afixos de ambos os tipos.

A última etapa deve ser dedicada à segmentação dos compostos morfológicos.


2. Monitorizar o desenvolvimento da consciência morfológica

A monitorização do treino de segmentação morfológica deve considerar os acertos nas respostas e, idealmente, o tempo de resposta. O objetivo desta atividade é o de estimular a consciência morfológica, ou seja, a capacidade de identificação das peças que integram a estrutura das palavras e que correspondem a um primeiro nível de associação entre sons e significados.

No caso dos radicais, a relação é geralmente referencial: em gato ou gata, por exemplo, o radical (i.e. gat) refere uma espécie animal que tem uma definição na zoologia, um conceito geral no senso comum e um conjunto de propriedades que podem ser mais ou menos familiares. Em geral, a definição técnica só é usada nos contextos restritos do ramo da ciência a que pertence, o conceito geral é aprendido em associação com a aprendizagem da palavra e as propriedades são deduzidas a partir do conceito geral, podendo ser mais ou menos numerosas ou complexas, em função da informação a que os falantes têm acesso.

Os sufixos especificadores não têm, por si sós, um conteúdo referencial. Alguns, como a vogal temática dos verbos, têm apenas uma função gramatical, que, neste caso, consiste em distribuir os verbos por três classes distintas – as conjugações. Outros, como os sufixos de flexão, contribuem para o cálculo de valores morfossintáticos, como o número dos substantivos, por exemplo, que vão ser computados nas frases, por exemplo através das configurações de concordância.

Os restantes afixos promovem operações gramaticais e semânticas sobre as bases a que se associam.

A capacidade de segmentar as palavras e de o fazer em tempo útil deve evoluir a par. Assim, o aumento de respostas certas deve ser acompanhado pela diminuição dos tempos de resposta.


Autoria: Alina Villalva

Publicação: 13.dezembro.2021

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