1. Promover a legibilidade da escrita e a ortografia.
A melhoria na legibilidade da escrita quanto à forma, tamanho, espaçamento, alinhamento e traçado das letras é normalmente conseguida com recurso a um conjunto de atividades específicas, em duas ou mais sessões por semana, 10 a 30 minutos por sessão e durante várias semanas. Em cada sessão são trabalhadas duas a três letras que partilham características comuns quanto à forma (e.g., <l>, <i> e <t>; <v>, <w> e <y>). As letras mais frequentes e menos complexas do ponto de vista grafomotor são trabalhadas primeiro, enquanto as letras que são facilmente confundidas não deverão ser incluídas na mesma unidade (e.g., <u> e <n>; <d> e <b>; <p> e <q>). Entre as possíveis atividades é sugerido o ensino da forma correta de segurar o lápis, da postura do corpo durante a escrita e da inclinação adequada da folha sobre a mesa (e.g., na escrita cursiva uma inclinação da folha de 45º graus no sentido contrário aos ponteiros do relógio). As atividades de treino relacionadas com a grafia das letras podem conter pistas visuais (e.g., setas numeradas) indicando a natureza, ordem e direção das linhas/traços de forma a que seja mais fácil para a criança identificar os movimentos motores que tem que realizar.
Para melhoria da precisão ortográfica (erros fonológicos e lexicais/ortográficos) sugere-se uma intervenção que combine o método fónico (para os erros fonológicos) com atividades que promovam o acesso à representação ortográfica das palavras a partir do léxico (para os erros lexicais/ortográficos). Neste último caso, o desenvolvimento de listas de palavras com características ortográficas comuns (e.g., lista de palavras com os diversos fonemas do grafema ) para posterior leitura, escrita e memorização é umas das atividades frequentemente recomendadas. Para ser eficaz, a intervenção terá de ser realizada de forma sistemática, continuada e explícita.
Em suma, a melhoria e consolidação dos processos mais básicos de escrita (caligrafia e ortografia) é, assim, determinante para que a criança possa orientar os recursos cognitivos para os aspetos mais complexos da escrita e, desta forma, ser possível expressar adequadamente os seus conhecimentos, ideias e experiências. A aquisição da escrita permite o acesso a um fantástico e novo “mundo” de possibilidades para a criança aprender, comunicar e potenciar a sua criatividade.
2. Monitorizar as dificuldades na escrita.
A aprendizagem da escrita deverá ser monitorizada por forma a identificar precocemente as crianças com dificuldades nos processos envolvidos na escrita (caligrafia, ortografia, e planeamento, textualização e revisão de textos) e, deste modo, mais rapidamente dirigir a atenção e a prática para os aspetos que necessitam de ser trabalhados. A monitorização é igualmente importante durante o processo de intervenção para se analisar o nível de progresso da criança. Durante as atividades de treino da escrita é recomendada a avaliação e registo regular da precisão ortográfica (i.e., percentagem de palavras corretamente escritas), da fluência de escrita (i.e., número de letras escritas por minuto), da legibilidade da caligrafia (quanto à forma, tamanho, espaçamento, alinhamento, traçado e ligação das letras) e da qualidade da expressão escrita.
Os progressos que a criança vai obtendo, por pequenos que sejam, deverão ser partilhados com o aluno, reforçados positivamente, através do elogio, e destacadas as oportunidades que se abrem com a progressiva evolução de modo a promover o sentimento de competência, valorizar o seu esforço e motivá-la para a escrita.
Autoria: Octávio Moura Edição de texto: Andreia Lobo Edição gráfica: Vera Antunes
Publicação: 22.março.2021
A escrita é uma competência complexa. Requer um conjunto amplo de processos cognitivos que interagem entre si: processos grafomotores necessários para a escrita das letras (caligrafia), processos ortográficos (lexicais/ortográficos relacionados com a representação ortográfica das palavras e sublexicais/fonológicos relacionados com a conversão dos fonemas nos grafemas) e processos associados ao planeamento, textualização e revisão de textos. As dificuldades na escrita podem ocorrer num ou mais destes processos.