Desenvolver Recomenda-se

Como se formam as palavras?

1. Promover, de forma integrada, o trabalho de leitura e escrita

A capacidade de compreender e usar palavras complexas que são usadas com maior frequência no registo escrito requer um contacto diversificado e frequente com textos escritos, o que é estimulado, de forma sistemática durante todo o processo de escolarização. A construção de palavras a partir de unidades mais pequenas é, pelo contrário, uma atividade raramente solicitada quer pelo uso da língua quer pelas práticas escolares dominantes. Com efeito, os falantes raramente formam palavras novas e raramente são convidados a fazê-lo.

A atividade aqui proposta visa, por um lado, tornar os constituintes morfológicos visíveis, enquanto tal, e, por outro, promover a construção de palavras a partir da concatenação desses constituintes morfológicos. Embora nem todas as combinações de constituintes morfológicos gerem palavras bem-formadas, as possibilidades de resposta são muito numerosas. Por esta razão, devem os alunos complementar a atividade de formar palavras com a busca da sua atestação em dicionários ou em exemplos de uso, colhidos, por exemplo, na internet.

    

2. Monitorizar, de forma integrada, a consolidação das representações ortográficas e a automatização dos processos de leitura e escrita

A monitorização da capacidade de formação de palavras deve conter uma fase de automonitorização e uma fase de monitorização externa (pelo professor ou até pelos colegas).

A automonitorização baseia-se na confirmação da boa-formação da palavra construída, com base na consulta de um dicionário (cf. Infopédia ou Priberam) ou na utilização de uma pesquisa online que permite localizar o uso dessa forma. Desta maneira, os alunos também treinam o uso de dicionários e a pesquisa lexical.

A monitorização externa é particularmente relevante nos casos em que as palavras não estão registadas no dicionário, o que se verifica, por um lado, com formas flexionadas distintas das formas de citação (cf. aceitavam vs. aceitar), e, por outro, com formas complexas que não estão dicionarizadas (cf. aceitar vs reaceitar).


Autoria: Alina Villalva          Edição: Andreia Lobo

Publicação: 19.fevereiro.2024

Perguntas Frequentes

É possível criar novas palavras?

Sim. A vida está constantemente a solicitar a criação de novas palavras. As novas palavras podem surgir de diversas origens. O léxico é frequentemente enriquecido por empréstimos de outras línguas (cf. briefing), por novos significados atribuídos a palavras já existentes (cf. grosso - 1. espesso, 2. mal-educado) e pelo recurso à gramática morfológica, através dos processos de afixação ou composição.

Como se sabe se uma palavra existe?

As palavras existem quando são ou foram usadas pelos falantes, o que nem sempre é fácil de determinar. Os dicionários são instrumentos importantes para verificar a atestação das palavras (para além de outras informações), mas nem todas as palavras usadas pelos falantes estão registadas em dicionários. Um outro instrumento importante para a verificação da atestação das palavras são os corpora lexicais (bases de dados de textos escritos ou de transcrições de interações verbais orais), mas também não é garantido que a não ocorrência das palavras nessas fontes comprove que a palavra não existe. Um terceiro recurso para avaliação da existência das palavras decorre do conhecimento dos processos de formação de palavras. Se a palavra pode resultar da intervenção de um processo de formação de palavras, então a palavra é possível e pode já ter sido ou vir a ser usada pelos falantes (cf. covidário). A existência das palavras depende, na verdade, de um acordo tácito entre o seu uso e a compreensão pelos falantes

Recursos

LEITURAS SUGERIDAS

Morais, A. G. (1998). Ortografia: ensinar e aprender. Ática.

Paula, F. V. (2002). Conhecimento metacognitivo de crianças de 3.ª série que apresentam dificuldades na aquisição da leitura. Instituto de Psicologia da Universidade de S. Paulo: Dissertação de Mestrado.

Viana, F. L., Silva, C. V., Santos, A. S., Vale, A. P, & Ribeiro, I. (2014). Prova de Consciência Morfológica (PCM): Contributos para a sua validação. Calidoscópio, 12(3), 335-344. https://doi.org/10.4013/cld.2014.123.08

Villalva, A. (2008). Morfologia do Português. Universidade Aberta.

Villalva, A. & Silvestre, J. P. (2015). Introdução ao Estudo do Léxico. Descrição e Análise do Léxico do Português. Editora Vozes.

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