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Avaliação e diagnóstico

A avaliação com vista ao diagnóstico deve ser abrangente, incluindo não só a leitura, a escrita e capacidades que lhes estão associadas, mas também um conjunto diversificado de domínios cognitivos que podem estar prejudicados. É o balanço entre as áreas fortes e fracas, tanto ao nível do funcionamento cognitivo como académico, que vai contribuir para se traçar o perfil da criança e promover estratégias de intervenção personalizadas.

É possível identificar potenciais dificuldades de leitura mesmo antes de se tornarem um verdadeiro problema. No entanto, em Portugal ainda não se verifica uma prática sistematizada para o despiste precoce de crianças em risco, nem existem instrumentos adequados para o efeito e que tenham as características psicométricas necessárias para assegurar a sua boa qualidade. A ausência de um despiste e de uma intervenção precoce atrasa ou mesmo impede o apoio até que a criança comece efetivamente a falhar nesta aprendizagem durante os primeiros anos de escolaridade, quando surge a necessidade de um diagnóstico. 

A leitura é uma atividade que depende de vários processos mentais, além dos que lhes são específicos, razão pela qual as dificuldades sentidas por crianças com dificuldades na aprendizagem da leitura podem manifestar-se, não só na leitura e escrita, mas também em outros domínios cognitivos. A aprendizagem da leitura tem ainda implicações para outros domínios cognitivos: ler permite aprender novas palavras, adquirir novos conceitos, obter novos conhecimentos, e por isso as dificuldades de leitura rapidamente extravasam para outros domínios de aprendizagem. A avaliação com vista ao diagnóstico deve, portanto, ser abrangente, incluindo não só a leitura, a escrita e capacidades que lhes estão associadas, mas também um conjunto diversificado de domínios cognitivos que podem estar prejudicados. É o balanço entre as áreas fortes e fracas, tanto ao nível do funcionamento cognitivo como académico, que vai contribuir para se traçar o perfil da criança (Shaywitz, Morris, & Shaywitz, 2008) e promover estratégias de intervenção personalizadas. 

Na literatura há relativa concordância sobre quais as competências que uma avaliação com o objetivo de diagnóstico deve incluir: a exatidão e a fluência da leitura, a compreensão oral e escrita, a escrita e o conhecimento ortográfico, o processamento fonológico, a nomeação rápida automatizada, o vocabulário, a velocidade de processamento, a memória de trabalho verbal e não-verbal, a aritmética e a inteligência não-verbal. Convém ter em conta que o diagnóstico das dificuldades de leitura não pode ser feito simplesmente com base no desempenho dos domínios avaliados, mas considerar outras esferas. Como, por exemplo, a história de desenvolvimento; a história familiar, incluindo a existência de perturbações de desenvolvimento como as de leitura; o percurso escolar; a avaliação do desenvolvimento emocional, ansiedade e depressão, que deve ser realizada por um profissional especializado na área de avaliação neuropsicológica e cognitiva.

Para a avaliação das dificuldades associadas aos problemas de leitura é fundamental utilizar instrumentos adaptados à população e que sejam padronizados, com estímulos que reflitam as características linguísticas do Português Europeu, com propriedades psicométricas adequadas e com valores normativos que permitam posicionar o desempenho da criança face ao seu grupo de referência, pelo menos, em termos de idade e escolaridade. Igualmente importante é que quem avalie seja um técnico credenciado e especialista na área neuropsicológica. 

Devemos ter o mesmo grau de exigência no que diz respeito aos instrumentos e materiais de avaliação, assim como aos profissionais que podem diagnosticar dislexia que teríamos numa avaliação fisiológica para um diagnóstico médico. Seríamos céticos sobre o que significa um elevado nível de açúcar no sangue se não conhecêssemos os valores normativos do grupo de referência, e mais ainda sobre um diagnóstico clínico de diabetes feito por um não-médico, mesmo que de uma área próxima da medicina. Além de instrumentos rigorosos, com as propriedades acima referidas, e de materiais selecionados de forma criteriosa (a análise de itens é, em si mesma, um domínio de estudo em psicologia), a avaliação de potenciais dificuldades de leitura e o diagnóstico de dislexia são do foro da neuropsicologia e realizados por profissionais qualificados.

Autoria: Alexandra Reis, Luís Faísca e Tânia Fernandes          Edição: Andreia Lobo 

Publicação: 22.setembro.2020